Quando não se é honesto, não se sabe o que é jogo limpo. Quando não se é honesto, acha-se que se tem o direito a ganhar a todo o custo. Quando não se é honesto, inventam-se mil e um subterfúgios para fazer batota. Quando não se é honesto, tenta-se ganhar na secretaria, nem que para tal se tenha de comprar o secretário.
Por Carlos Pinho (*)
Quando não se é honesto, presume-se que se tem o direito divino e inquestionável à liderança.
Quando não se é honesto, compram-se os adversários de moral duvidosa para que sejam estes a, sempre que possível, torpedearem a concorrência à qual anteriormente pertenciam.
Quando não se é honesto, convidam-se os venais para integrarem a nossa banda para fazerem alegremente o trabalho sujo da denúncia caluniosa e da traição.
Quando não se é honesto, acha-se que o genocídio é um direito inalienável para eliminar concorrência.
Quando não se é honesto, ignora-se a sociedade civil em que um se insere e actua-se à revelia desta.
Quando não se é honesto, mesmo os nossos porta-vozes não têm pejo em caluniar terceiros, desde que sejam opositores.
Quando não se é honesto, se para tal for necessário, altera-se a lei a bel-prazer.
Quando não se é honesto, ameaça-se, chantageia-se, e se possível elimina-se a concorrência.
Quando não se é honesto, não há fome e sede de justiça. Há tão somente uma ganância feroz e despudorada.
Quando não se é honesto, vendemo-nos a quem tem dinheiro e poder e não temos vergonha de mostrarmos a nossa prostituição moral.
Quando não se é honesto, ganham-se fortunas à custa do erário público.
Quando não se é honesto, que se lixem os angolanos de bem. Tal como no tempo colonial, estes são merecedores de porrada se refilarem.
Quando não se é honesto, não há vergonha nem probidade.
Quando não se é honesto, é moeda corrente e parece ser o desiderato dos actualmente poderosos.
Coitada de Angola, onde o “Quando não se é honesto…“, minou toda a sociedade.
(*) Professor na FEUP – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
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